4 de abr. de 2011

Verdades e fatos

- E isso tudo é culpa sua seu moleque vagabundo! Se você não tivesse visto eu com ela, sua mãe não tinha deixado nossa casa, seu drogado!
Tom escutava encostado no canto da parede. Perguntava-se qual fora seu erro. Sua mãos tremiam. Ele saiu correndo, desviando dos xinagmentos do pai , caiu na cama e dormiu. Quando acordou havia uma mala pronta no pé de sua cama, além do seu pai de pé, olhando com raiva pra ele.
- Pega sua mala, seu violão e cai fora dessa casa! Enquanto eu lembrar o que você fez, nem tente pisar aqui! - gritou o pai de Tom.
Tom tomou seu último café da manhã em casa. Saiu pelas ruas da cidade. Como estava de férias da escola, não havia muito o que fazer. Caminhou bastante até chegar a uma praça movimentada, onde ele se sentou em um banco vazio, colocando sua mala ao lado. Pegou seu violão e tentou afogar sua mágoa na música. As notas pareciam fluir. A dor o deixava sentimental e os sentimentos o levavam a notas musicais maravilhosas. Parou um pouco. Pensou em onde sua mãe poderia estar. Teve uma ideia. Pegou algum dinheiro que tinha no bolso e comprou papel, lápis e borracha. Ia escrever uma música.
"Por minha culpa minha mãe saiu de casa".
 Não. Estava muito óbvio. Passou o resto da manhã e a tarde concentrado em sua missão. Enquanto tentava escrever, dava voltas pelo parque, olhando o lago, os pássaros, os patos e o céu. O resultado foi algo que o surpreendeu.
" Tentei não esconder a verdade
Que estava tão fácil de enxergar
Às vezes a nossa maldade
Não deixa a alma perdoar
Parece que estou derrotado
Mas o céu diz pra prosseguir
O lago reflete minha face
E me lembra de como eu fugi
Deixei a verdade que tinha em mãos
Se voltar contra mim e me ferir
Agora procuro refúgio
Onde nem os pássaros fazem barulho
Agora procuro refúgio no fundo do meu coração
Mas eu só queria um abraço de pai, um abraço irmão "
- Ei moça! - disse Tom a uma mulher que observava o lago.
- Sim? - indagou a mulher, sem interesse.
- Você pode ouvir a música que fiz, se você quiser, é claro.
A mulher olhou para o menino atentamente e aceitou o convite. Depois de tocar a música para a moça, ela era só sorrisos para Tom.
- Você gostou?! - perguntou Tom.
A mulher não respondia, estava sorrindo. Virou-se para o lago e começou a chorar.
- O que foi moça?
 - É, é que... É que essa é a história da minha vida.
Tom não conseguiu não sorrir. Abraçou a mulher que retribuiu o abraço. Depois do abraço, ela tomou Tom pelo braço e disse:
- Vem cá!
Tom foi puxado, bastante animado. Chegaram a um prédio que parecia abandonado. Subiram as escadas e foram parar em uma sala imensa, cheia de eletrônicos. Era um estúdio musical.
Algumas semanas depois, a música de Tom já tocava nas rádios. Recebia várias cartas agradecendo pela música. Entre essas cartas, duas ele deixou de lado. A de sua mãe e de seu pai. O estúdio era sua casa agora. Em uma noite chuvosa, resolveu voltar com seus sentimentos tristonhos. Abriu as cartas.
"Meu filho,
Estou muito orgulhosa de você. Sabia que você iria ser um grande artista um dia, mesmo que seu pai não acreditasse. Estou mais orgulhosa pelo fato de você ter me contado o que ele fizera. Muito obrigado, te amo muito! Estou em um lugar melhor, mas ainda não te direi. Eu conversei com seu pai e ele concordou em contar a verdade que guardamos. Leia a carta que ele vai enviar e você saberá de tudo.
Com amor,
Sua mãe."
O menino sorria e as lágrimas caiam rapidamente. Não hesitou em abrir a carta do pai.
"Tom,
A pedido de sua mãe, estou escrevendo essa carta pra te contar a verdade. Primeiramente, te peço desculpas pelo que fiz a sua mãe, me arrependo totalmente. E agora vou te contar a história que eu e ela escondemos de você até aqui.
Sua mãe estava grávida. Quando você nasceu, a alegria foi enorme. Mas eu ainda não te conhecia. Isso, porque não sou seu verdadeiro pai. O seu pai biológico morreu no caminho de volta pra casa, do hospital até em casa, em um acidente de carro. Sua mãe não aguentava a pressão e me conheceu. Fiquei com muita pena dela e resolvi aceitar a proposta. Casei-me com ela. Anos mais tarde eu queria ter um filho meu. Te considerava um filho, mas queria um com meus genes. Sua mãe relutou muito e consegui convencê-la. Mas quando ela engravidou, logo perdeu o bebê. E as várias vezes que tentamos também. Com o passar dos anos eu me relacionei com outras mulheres, porque queria um filho. E em uma dessas você me viu e contou pra sua mãe. Ela revoltou e saiu de casa. E eu na raiva do momento te expulsei e achando que você ia voltar, fiquei quieto. Não consegui te achar até hoje. Sua mãe veio até aqui e conversou comigo. Peço muitas desculpas e espero que você volte pra casa, mesmo que eu não seja seu pai. Te considero como um filho. E agora você vai ter um irmãozinho. Sua mãe está grávida de mim.
Estou te esperando, orgulhoso pelo seu sucesso, abraço!
Seu "quase" pai ".
Tom lia a carta incontáveis vezes. Finalmente a verdade dele levou a verdadeira verdade. Voltou pra casa, mas sempre ia ao estúdio. E aprendeu que um fato muda tudo. E que esse fato leva a outros. E a verdade bate o martelo final.

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