26 de abr. de 2014

II – A inconsistência do pêndulo de Pedro.

            Meu nome é Pedro e eu tinha um pêndulo.
Quando era criança, no meu aniversário de dez anos ganhei um pêndulo do meu avô. Era um pêndulo mágico e ele conseguia trazer balanço em todas as situações encontradas. Mesmo as mais adversas. Era só eu chegar perto da atmosfera que envolvia o ambiente que eu mudava tudo com meu pêndulo.
     Uma vez fui convocado para resolver um problema conjugal de um casal (óbvio) muito rico. Eles brigavam o tempo todo, mas foi só eu chegar perto deles e hipnotiza-los com meu pêndulo mágico que tudo voltou ao normal. Eles, é claro, ainda brigam. Mas agora há um balanço. Só discutem quando o assunto é expor as opiniões de cada um.
         Um dia, uma mãe desesperada bateu à minha porta e me pediu que procurasse sua filha que havia ido passear na floresta e nunca mais retornara. Só que não era uma floresta comum. A floresta era conhecida por confundir a cabeça de todos que entrassem nela. E não havia ninguém melhor que eu para explorar um lugar desses. Eu tinha um pêndulo mágico, afinal!
         Saí a procura da garota. Toda vez que a floresta tentava me confundir, o pêndulo era acionado e tudo ficava mais claro. A floresta era tortuosa e perigosa. Procurei por toda parte e não consegui encontrar a menina. Depois de ficar três dias perambulando pelo local, vi uma figura pequenina sentada à margem de um rio que ficava ao final de um declive. Começo a descer o declive lentamente, mas o cansaço, aliado com a fome e a sede, me confundem, e o pêndulo não foi rápido o suficiente para impedir que meu corpo cambaleasse e caísse, violentamente, no declive até repousar à margem do rio. Depois de horas desacordado, abro os olhos e tenho duas surpresas: a menina não estava lá mais e meu pêndulo havia quebrado. E agora, o que eu faria?!
         Levanto e tento voltar por onde vim, mas a floresta começa a me confundir e começo a andar em círculos. E agora, com meus 25 anos continuo vagando pela floresta da confusão. Não sei mais quem eu sou. Nem mesmo meu nome eu me lembro mais. Mas não faz diferença: O nome nunca me foi importante; eu tinha um pêndulo mágico! E agora que eu o perdi, não sou mais ninguém.
Percebo então que não tenho meu lugar no mundo. Não sou necessário pra ninguém. Meu pêndulo era. Ninguém me procurava para passar horas de diversão insana ou nunca ninguém quis estar comigo e apenas “ser”. Vivo uma vida vazia aqui na floresta, mas pelo menos sincera. Quem quer que venha me procurar, se alguém sentir minha falta, é claro, vai encontrar alguém vazio e com nada de mágico. Apenas uma pessoa comum. Mais um perdido na floresta.

Cor: O verde infinito de uma floresta doentia.

Música: Teen Idle – Marina and the Diamonds

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