2 de set. de 2012

Einar o Tempo

Einar era tímido. Nunca conseguia fazer amizades, tinha medo de telefones, não tinha coragem de falar em público e esses afins. Nunca conseguia dizer que estava apaixonado. Então resolveu escrever uma carta pra Deus.

"Querido Deus,
Não sei mais se posso te chamar de querido, mas tenho certeza que é o único que poderá me ouvir. Você sabe quem eu sou, dizem que você sabe até quantos fios de cabelo tem na minha cabeça! Como pode alguém saber até isso sobre mim se nada conto pra ninguém?
Na verdade não venho questionar sua existência. E nem te dizer como eu sinto (pois é, dizem que até isso o Senhor sabe!). Venho te pedir para me dar coragem e tirar minha vergonha. Não aguento mais viver assim, mesmo tendo apenas 20 anos. Não tenho amigos, não tenho alguém que me sinta a vontade pra conversar, não tenho coragem para me apaixonar. Por favor, me mande alguma coisa para que minha ânsia de viver aumente.
Einar."
O pequeno homem foi até a igreja mais próxima e se sentou no banco. Não sabia como enviá-la para Deus. Einar sabia que era um tolo tentando enviar uma coisa para um Ser sem nenhum endereço. Ficou parado olhando para a carta. Até que uma mão chegou e encostou no seu ombro. Era uma velhinha, daquelas que ele sempre via fofocar sobre os assuntos ridículos e mortes do bairro e ele olhou estranhamente pra ela.
- Oi Einar! - sim, essas velhinhas sabiam o nome de todo mundo!
- Oi... - respondeu ele com olhar estranho e cara de palerma.
- O que é isso na sua mão?
- É, não é nada - disse ele corando.
- Não sei porque me deu uma vontade incrível de vir na igreja agora e encontro você por aqui!
- Hum... Só vim aqui pra rezar um pouco, já estou indo.
- Aposto que você não veio aqui só pra isso né!
- Não, foi só isso mesmo...
Einar se levantou, deu tchau para a velhinha e se foi. Quando chegou em casa percebeu que a carta não estava com ele. Voltou pra igreja correndo pra ver se continuava lá. Ainda estava no mesmo lugar. Pegou e voltou pra casa. Colocou num canto e continuou sua medíocre vida.
Um grande tempo depois, ele estava arrumando a mudança e viu a carta. Resolveu abrir e ler.
"Querido Einar,
Eu sei que você vai se perguntar como essa carta foi escrita, mas de quem você menos espera, você ganha.
Tudo o que você precisa ouvir é: O Meu tempo é diferente do seu.
Deus (assim como você se referiu a mim!)"
Einar respirou fundo, sentou, leu mil vezes e chorou. Ele agora lembrava de tudo o que pedia na carta e percebeu que tudo o que pedira e mais um pouco estavam agora na vida dele. Ele não tinha mais vergonha de fazer amigos, tinha muitas pessoas que gostavam dele, amava ser ele mesmo. Mas faltava uma coisa: se apaixonar.
Ele sorriu e lembrou "O Meu tempo é diferente do seu."

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