21 de out. de 2011

Barreira de ataque

Achei que era mais um dia comum. Acordei com sono como sempre, fui ao banheiro como sempre e o café estava como sempre. Pelo menos o dia amanheceu frio, o que é uma coisa rara na minha cidade, mesmo no inverno. Fui pra escola depois de terminar o que tinha que fazer.

Minha escola não tem armários como nos colégios americanos, acho que o governo não ia aguentar manter os armários em boa condição. Vejo o mesmo grupo de valentões em um canto, perto da entrada. O "líder" deles costuma implicar com todo mundo. Pelo menos comigo ainda não implicou. E é claro que no dia espantosamente frio e incomum ele futucaria meus nervos.
- Olha ali aquele menino. Quem usa um óculos daquele tamanho? Só um idiota desses.
Eu virei com um sorriso estampado no rosto. Naquela hora eu pensei: "vai ser mais uma daquelas histórias com valentões em que o sofrido leva a melhor".
E ele implicou comigo por todos os dias frios. Sim, os dias estavam estranhamente congelantes. Até que eu matutei (quem usa essa palavra?) umas ideias. Fui até ele na cara e na coragem.
- Oi.
- Olha aí, o óculuzudo veio falar comigo.
Todos riram, inclusive eu.
- Porque você tá rindo óculuzudo? A gente tá te zuando. Será que é tão sonso que não percebe?
- Sou, sou muito sonso.
Ele deu um risinho.
- Ele assumiu que é sonso! Que sonso.
Continuei com meu sorriso estampado na cara.
- Pra que você veio aqui seu palerma?
- Palerma?
- Isso. P-A-L-E-R-M-A. Ah, esqueci. Tenho que desenhar pro sonso entender.
- Ninguém usa palerma atualmente.
Todos riram, mas dessa vez eu fiquei sério. Minhas ideias matutadas conseguiram achar um jeito de sair da minha boca de zíper.
- Palerma é uma pessoa idiota, sonsa, óculuzuda igual você.
Eu esbocei um sorrisinho mágico e disse calmamente:
- Atenção. É isso que você quer? Que todos olhem pra você, que todos falem de você?
Ele parou pra pensar. É claro que era isso que ele queria.
- Eu não, eu só me sinto bem te chamando assim óculuzudo.
- Você pelo menos percebeu que quem tá recebendo toda a atenção aqui sou eu? Tudo o que eu fiz é fazer você achar que estava recebendo minha atenção, me chamando de óculuzudo.
Uma chuva rala começou a cair. Adoro quando cenas de filme acontecem na minha vida. Continuei:
- E tudo o que os "valentões" querem, é serem estereotipados de valentões, gostosões e fortões. Na verdade quem é o mais forte sou eu aqui. Eu pude aguentar todos seus "elogios" durante todos esses dias. Você não aguentaria nem dez segundos e ia sair correndo. Por isso você está no grupo dos valentões. Com essa esteriótipo de ninguém nos atinge, suas barreiras estão feitas. Mas elas não são fortes. E todos poderiam chamar isso de bullying e essa coisa. Mas eu não estou nem aí e nem estou com raiva. Só queria te mostrar que fazer barreiras com pessoas não funciona. Tem que se fazer barreiras com você mesmo. Só você pode ser forte por você. Obrigado.
É claro que eles riram do meu discurso, nada acontece como em filmes em que o pobrezinho dá uma lição de moral e os valentões saem perdendo.
Tudo o que eu consegui foi apanhar e aprender uma coisa: as emoções podem fazer uma barreira forte, mas podem atacar.

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