12 de abr. de 2011

A mente mente



A rua estava movimentada. Havia uma lojinha apertada e com objetos que não chamavam atenção. Dentro do estabelecimento estava Fletcher. A chuva começou a ricochetear o telhado das casas e as calçadas cheias de gente. E alguém entrou na lojinha estranha pra se proteger da chuva  e mal sabia que aquilo ia mudar a sua vida.



- Droga de chuva, molhou meus sapatos novinhos! E olha só a minha bolsa! Toda encharcada!
- Você está molhando minha loja - disse Fletcher rispidamente.
A mulher o olhou com desprezo e fincou o pé no chão. Fletcher veio e fincou o pé no chão, imitando a atitude da mulher. Ela o olhou com indignação. Ele fez o mesmo. Voltou pra trás do balcão e pegou uma bolsa, calçou uns sapatos femininos e começou a atuação:
- Nhé nhé chuva, nhé nhé bolsa, nhé nhé nhé sapato novo!
- Você tá zoando com minha cara seu idiota? - enfureceu ela.
- Só estou te mostrando que você não precisa ter atitudes que desperdicem sua beleza interior.
- Ah, vai se catar, idiota.
A mulher saiu trotando na chuva. Parou depois de alguns passos, olhou pra cima e sentiu a chuva na pele. Respirou. Percebera que era tão bom sentir a chuva e que ela podia se sentir bem. Pensou em Fletcher e que sua atitude a fizera perceber como era boba. Resolveu voltar a loja. Abriu a portinha enferrujada e encontrou Fletcher sorrindo.
- É... eu não sei como agradecer.
- Não precisa. Mas eu poderia te mostrar uma coisinha?
- É claro! - disse ela molhada da chuva que continuava lá fora.
Eles entraram em um portão aos fundos da loja, que dava a uma sala extremamente limpa, arrumada, cheirosa e iluminada. Havia uma cadeira vermelha que contrastava com o ambiente branco e claro.
- Pode se sentar.
A mulher sentou com um pouco de medo. De repente tudo se tornou escuro. Ela não via nada e respirou fundo. O ar cheirava a menta, que era o cheiro que ela mais gostava. Uma imagem apareceu na sua frente. Era ela e seu namorado, juntos e felizes. Mas depois apareceu outra imagem, dela triste e longe do seu amor, o que era a realidade. As imagens dela triste e feliz se colocaram uma ao lado da outra. Mas porque ela estava vendo imagens da mente dela? Agora a felicidade e a tristeza começaram a se misturar. Mas que porcaria era aquela? Tudo ficou preto de novo. Agora o cheiro de chocolate envolvia a escuridão e a música "Put Your Arms Around Me" começou a tocar. Era a música e o cheiro que a envolveram quando se apaixonou por ele. Mas agora ele não podia estar por perto. A música parou. Um telefone começou a tocar.
- Alô? - Perguntou ela.
O telefone parou.
- Karina, o Menner me contou que você ficou com o Caio! Como você pode fazer isso depois de dizer que gostava tanto de mim?!
Eram lembranças da semana passada. E ela nada pode fazer, ele não quis escutá-la. Era uma grande mentira que Menner contou, porque Karina havia trocado ele por seu atual namorado. Então um controle de video-game caiu no colo de Karina. Ela o pegou e apareceu uma imagem dela de um lado, o namorado de outro e um coração no meio. Em baixo as opções sim e não. Karina apertou no sim. Depois apareceu uma imagem de Menner e Karina abraçados. Em baixo as opções sim e não. Então a imagem se dissolveu. Tudo tornou-se branco de novo, o cheiro de menta voltou.
- Bem, você foi a primeira que conseguiu realizar boa parte do teste. Essa cadeira sente o que você sente, pesquisa na sua memória e joga na tela. E depois chega a parte que você tem que fazer decisões. Você decidiu amar seu atual namorado, mas quando apareceu Menner, você parou e pensou.
- Bem, é que gosto dele como amigo, mas o que ele fez foi uma vergonha.
- Bem, agora quero que você sente nessa cadeira azul.
Karina se sentou. Tudo se tornou exageradamente claro, mais do que era. E então apareceram milhares de imagens. A cada hora aparecia uma mais. Então surgiu uma imagem de um sorvete. Em baixo as opções sim ou não e em cima um relógio em contagem regressiva. As imagens sumiram e a claridade foi diminuindo até ela poder ver Fletcher de novo.
- Essa cadeira, é a da razão, do raciocínio. Como você pode ver, quando você tem que decidir sobre a razão, há muita pressão sobre o seu ser e você acaba tendo pouco tempo. Já quando você decide sobre sentimentos, você pensa com extrema calma e paciência e vê todos os pontos. E quando você chegou em minha loja, você estava pensando só com a razão. Nós devemos unir os dois para decidir. Para pensar também. - concluiu Fletcher.
- Ah...
Karina estava perplexa. Nunca pararia pra pensar em alguma coisa assim. Saiu dizendo obrigado, deu um abraço em Fletcher e parou na calçada. Ainda estava chovendo. Karina parou, sorriu e continuou sentindo a chuva na pele. Era muito bom pensar que a razão deixava o sentimento tomar um pouco de espaço.
- Ah, e obrigado por me chamar de idiota! - gritou Fletcher da porta.
Karina riu pra ele e continou a caminhada. Tirou os sapatos e os colocou dentro da bolsa, ambos encharcados. Era hora de utilizar um pouco dos seus sentimentos.
E melhor coisa nessas horas, é ouvir. Ouvir tudo o que há pra ser ouvido. Uma hora chega sua vez de falar e usar sua razão e emoção.

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