28 de abr. de 2010

O Livro

Me falaram de um lugar espetacular que eu não poderia deixar de visitar. Pensei bastante até embarcar com um amigo naquele trem. O vagão era bem parecido com aqueles carrinhos de minas que carregam minério, sujo, enferrujado e nada agradável. Mesmo assim me pareceu uma alegre viagem. Fomos pelos trilhos, cada um em seu carrinho, e uma hora nossos trilhos se separaram. Eu começei a descer um morro em forma de espiral com várias pedras ao centro, bem pontudas. Quanto maior a profundidade mais obscuro era. Passava gente subindo com olhares estranhos, mas intrigantes.

Cheguei. O vagão parou e eu saltei e me vi numa sala mal iluminada, com luzes foscas azuis ao alto e com o que parecia uma cama bem ao final da pequena sala. Cheguei perto daquela cama e vi uma criatura que parecia aos meus olhos um humano com características de águia (pena, bico...). Para falar a verdade, uma humana. Os olhos da criaturam, semi cerrados, pesavam de súplica e piedade. Até que ela começou a falar comigo.
_Estava te esperando menino.
E o papo estava animado, estranho, chamativo, dócil e convincente. Apesar de não lembrar de grande parte da conversa, sei que ela conseguiu me seduzir para entrar em sua humilde casa e conhecer seus filhos, depois de levantar da cama e ficar sentada na mesma. Ela pediu que eu entrasse na porta a minha frente. Fui confiante e abri a porta. O que eu vi parecia uma simples casa de família e logo avistei duas pessoas conversando perto da geladeira. Não puxei papo porque elas me pareciam estranhas. Apesar da convicção da águia, eu ainda não estava totalmente envolvido em seus argumentos, porque sou difícil de convencer. Achei um menino no outro cômodo, uma sala com uma mesa, que me pareceu simpático. Ele estava sentado à mesa lendo alguns livros. Cheguei mais perto e ele não me deu atenção pois estava lendo. Até que vi algo que me chamou atenção.
_ Olha! Você tem A bússola de Ouro de Philip Pullman, eu adoro esse livro!
_Que bom que você adora, quer emprestado?
_Ah, adoraria. - disse eu.
Quando peguei o livro eu escutei passos fortes vindo. Era minha colega que olhou para o menino firmemente e disse:
_ Porque vocês não podem ser igual aos outros e parar de querer só revolucionar pra pior?
_Calma - disse ele - Tudo tem seu tempo. O papai chifrudo ainda não conseguiu engravidar a mamãe. Ela só está esperando o momento.
Foi aí que eu percebi, pelo olhar malígno do menino, onde eu estava. Fui convidado a ir para o inferno e aceitei, mas agora queria sair correndo.
_Vamos! Ainda dá tempo de pegar o vagão! - disse minha amiga.
Fui correndo mas antes passei pela sala onde existiam vários humanos entrando e se transformando em seres infernais.
Cheguei em casa e percebi que na minha mão estava o livro que não queria que tivesse pegado. Além de ter pegado emprestado com alguém que não queria, eu já tinha um.
Peguei os dois exemplares e joguei um pela janela que se espatifou no chão e ficou aberto, meio rasgado. Fui perceber que tinha jogado o meu exemplar  e fui correndo para buscá-lo. Preferia ter o meu rasgado do que ter um que não era meu e que eu não queria ter. Quando cheguei lá em baixo peguei o livro e levantei a cabeça. Mas minha visão não viu coisas agradáveis. O menino o qual eu havia pegado o livro vinha em passos rápidos, com um terno preto e olhar furioso. Desci as escadas correndomas ele vinha atrás com toda a fúria.
Felizmente meu celular me despertou desse pesadelo. E a lição que eu tirei disso foi que as coisas fáceis, quase nunca são vantajosas ou boas.

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