18 de mar. de 2010

Amigo

_Não, cuidado! Ah!
Essas foram as últimas palavras de Alex antes dele ganhar uma cicatriz que ia da testa ao olho esquerdo e um braço biônico. Depois do acidente de carro que deixou ele assim, ele passou a ver muito mais qualidades do que defeitos nas coisas.
Após a recuperação dos seus ferimentos, Alex tinha que voltar a escola. Ele sofrera o incidente com 17 anos, mas agora tinha 19. Enfrentar uma turma a qual ele chamava os integrantes de pirralhos seria difícil. Ainda mais porque as pessoas adquiriram raiva dele por causa disso. Mas ele tinha que receber essa bolada no peito.

No primeiro dia de aula ele chegou bem cedo, antes de todos, para socializar-se e tentar tirar essa visão dos integrantes da turma. O primeiro colega chegou e olhou diretamente a sua cicatriz e ao seu braço, fazendo cara de quem não gostou. Assim foram chegando todos os outros da turma. Todos zombavam da cara de Alex por causa de seu braço e de sua cicatriz e ele sentia vontade de matar todos.
_ E aí braçolex? Quem é o pirralho e sem braço agora? - disse um zoando.
Alex treinou sua paciência todo esse tempo que tinha ficado em repouso e não disse nada.
Quase na hora da aula começar, Alex ouviu uns risinhos voltados para porta. Eles iam receber um colega cego na turma. Colocaram-no perto de Alex e chamaram eles de "grupo dos complexados".
_ Quem é você? - perguntou o cego.
_ Sou Alex. É bom te conhecer. Qual seu nome?
_Meu nome é qualquer um. Você me chama como quer. - disse o cego indiferente.
_Então te chamarei de amigo. Porque você não tem vergonha de ficar perto de mim.
A professora chegou e deu bom dia. Foi logo dar assistência ao "amigo" e a Alex. Todos riam bem baixinho e faziam piadas toscas. Foi assim por um longo tempo. Até que marcaram um churrasco da turma. Convidaram os dois pra ver o que ia dar. Mas só Alex pôde ir.
A festa começou e todos pulavam na piscina, menos Alex. Ele tinha vontade mas não podia pois danifcaria seu braço. Todos saíram da piscina pra comer. Mas ficou alguém esquecido. Um colega de classe estava se afogando enquanto todos comiam e bebiam. Alex não pensou duas vezes e pulou na piscina e salvou seu colega, nem ligando para seu braço.
_Cof cof cof. - todos juntaram em volta de Alex e o menino -  cof cof.
_Está melhor? - perguntou Alex.
_Porque você me salvou seu leproso? - critcou o garoto ainda tossindo.
_Porque é melhor uma vida do que um braço. E pra todos vocês também. Acho que acabo de salvar metade de vocês. E assim que eu me sinto na sala: me afogando. Vocês zombam da minha cara e da do "amigo" só porque temos alguns problemas. Aposto que com esses problemas somos muito mais felizes que vocês. Quero só ver quando vocês precisarem de trocar seus cérebros por cérebros bionicos. Acho que pior do que vocês são, vocês não ficam. E acho que vocês vão ser pirralhos pra sempre a não ser que percam um braço, ganhem uma cicatriz ou fiquem cegos. Acho que o "amigo" é menos cego que todos vocês juntos. Porque ele enxerga. Vocês veem.
O barulho da água se acalmando dava pra ser ouvido. Até que uma menina abaixou ao lado de Alex e do colega recém-quase afogado, beijou o rosto de Alex bem na cicatriz e disse:
_Vai curar como você me curou de mim mesmo. Obrigada.
Alex se levantou e foi embora. Nunca mais foi zombado. E o "amigo" nunca mais apareceu na turma. A cegueira dos outros foi tanta que cegou ele de vez.
E voce está aí sentando esperando ficar mais cego?

2 comentários:

  1. Jean, de novo achei o texto muito bom. Sabe, por força da profissão, tenho a maior mania de, antes de olhar o conteúdo, fazer uma revisão ortográfica. Coisa de velha gagá, não liga não. Mas o que quero dizer com isso, é que seu texto está perfeitinho, com ortografia impecável. Coisa raríssima pro pessoal da sua idade. Mosca branca mesmo!

    Em relação ao desenvolvimento da ideia, então, nem há muito o que se comentar. Essa é mais uma história que prende a atenção do começo ao fim. Bem legal!

    Apenas uma observação: o Alex bem que podia ter arrancado o braço biônico só um bocadinho e dado aquele mergulhão na piscina, não é não? Bobinho! kkkkkkkk!!!!

    Beijoca!

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  2. Oi, Jean

    Fiquei imprecionada com a sua tentativa de melhorar o mundo, mas não necessariamente consertamos as pessoas. Aprendemos com os erros delas, e assim, podemos propagar o bem em atitudes. Fico muito feliz quando sinto que minha causa é também a de tantos outras. Orgulhosa de saber que ao meu redor não há apenas uma juventude 'transviada'.

    Obrigada pelo texto.

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