17 de mar. de 2010

Dignidade

Lá fora, o barulho era de destruição, morte, guerra. Leandro estava no seu quarto sentado na sua cama ao lado de sua mãe. Ele apertava tão forte a mão de sua mãe que ela ficava olhando pra ele. Era época de guerra, pra ser exato, 2ª Guerra Mundial. Leandro era judeu, ou seja, perseguido pelos nazistas. Os seus olhos estavam fitos na janela suja e borrada pela poeira de bombas e de terra.

_Leandro, vai ficar tudo bem. - disse a mãe tentando amenizar a situação. Mas não adiantou.
_Mãe... - Leandro tinha apenas 10 anos e implorava por tudo - O papai vai voltar hoje?
A mãe não pode responder. Ela acabara de levar uma bala perdida que atravessou a janela. Leandro, perplexo, saiu andando pela casa. Com olhar assustado, sem saber o que fazer, ele foi até a porta e encostou a mão na maçaneta. Abriu a porta. A guerra explodia lá fora. Ele continuou a andar e parou no meio da rua já vazia, com corpos no chão e cheiro de pólvora no ar. Até que passou um homem correndo mas parou  ao ver o menino.
_Ei! Menino! O que tá fazendo aí parado?
O silêncio era profundo.
_ Menino! Quer saber, vou te levar antes que você morra.
O homem atordoado pela guerra nem percebera que o menino era judeu.
_Moço! Porque vocês guerriam?
O homem olhou para ele, esfregou os olhos e olhou de novo.
_Você é um judeu! tem que morrer, apesar de ser criança! - disse ele preconceituoso.
_ E você é um homem mau.
_Porque eu seria um homem mau? - perguntou duvidoso.
_Porque você mata.
_Mas eu mato porque os judeus são maus. Então isso me torna bom.
_Você nem quis pelo menos me conhecer pra ver se eu sou digno de morrer.
_Mas ninguém precisa ser digno pra levar um tiro - disse ele zombando da cara do menininho.
_ Pra você, precisa. Se eu não fosse digno de ser um judeu, não seria digno pra levar um tiro.
O homem parou pra pensar.
_É verdade! Mas mesmo assim você vai morrer, menininho.
_Pode atirar em mim pai. Vou ser digno de morrer com um tiro seu.
O homem ficou assustado, porque agora percebera a verdade. Nesse susto, o menino pegou a arma da mão do pai. o pai era nazista, mas havia casado com uma judéia, o que fazia seu filho judeu, mas ele era um pai fanático pelo seu país e nem lembrava que sua esposa era judéia. Deixara eles em casa para ir pra guerra, e pelo seu vício por servir, acabou por nem perceber com quem conversava.
_Já que isso serve pra matar, eu faço o serviço - disse o menino apontando a arma de grande porte pra cabeça.
O pai assustado tentou arrancar a arma da mão do menino mas acabou por virá-la fazendo com que o menino atirasse nele. O menino largou a arma com olhar assustado, voltou para porta da sua casa e gritou:
_Mãe, acho que o papai não vai voltar mais.
Largue seus vícios e e olhe. Seu filho pode estar na sua frente e você não vê. Ou quer tomar um tiro do Leandro?

Um comentário:

  1. Óia eu aqui!

    Caramba, Jean!... Que texto profundo! Sabe do que me lembrou? Do filme "O Menino do Pijama Listrado", você já viu? A sensação que o filme transmite é essa mesma que tive ao ver seu texto. Uma mistura de tristeza, com indignação e impotência diante deste fato tão cruel, que ilustra uma triste realidade.

    Sabe que já vi um judeu com aquele número tatuado no braço? Opa, pera lá, não é que eu seja tããao velha assim, tá? É que o judeu tinha ido pro campo de concentração beeeeem pequeno. Convenci? kkkk!!!

    Brincadeiras à parte, o texto sugere uma séria reflexão. Gostei de ver sua maturidade ao escrever, parabéns!

    Beijoca!

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