1 de mar. de 2010

Dom

_ Então eu passo e te pego às 19:00? - disse Will entusiasmado.
_Tá, pode ser, pode ser. Estarei pronta. - respondeu a pessoa do outro lado da linha um pouco acanhada.
Will ficou o dia todo esperando para o grande encontro que teria. Ligara para Vicky de manhã cedo de tão ansioso e preparara até sua roupa, coisa que não fazia. Will gostava de beber, muito. Bebiba em casa, com amigos, na casa da família, nos intervalos do serviço, a toda hora. Era daqueles meninos que agarram e contam para ver quantas "pegou" na noite, mas Vicky para ele era especial.

O que Will achava que era especial era o fato de que ia transar pela primeira vez, não a garota, por isso ela havia de confirmar, estar pronta. Chegada uma hora antes do combinado, Will saiu arrumado de seu apartamento e foi de carro até a casa de Vicky e ficou as espreitas esperando a hora chegar. Passou o tempo e logo veio ela vestida como em um dia da semana. Ela estava preocupada, envergonhada.
_Vicky! Como você está bonita hoje! - disse ele fingindo entusiasmo pela aparência da menina.
_ Então quer dizer que só justamente hoje estou bonita?
_ Ér... claro que não! Você está mais bonita que todos os dias!
_ Sei... Para onde vamos?
_Para onde você quiser gatinha!
Vicky não era dessas garotas que ficava toda melosa com elogios falsos, e no momento estava com cara de deboche. Estava asim desde que descobrira que tudo que Will queria era só transar, além disso ser uma aposta com os amigos dele mesmo. Antes dela saber desse fato, tinha prometido que iria fazer aquilo com Will. Mas ela tinha um plano.
_ Onde eu quiser? Então vamos lá pra casa mesmo, não tem ninguém.
Will saiu do carro e seguia ela até a porta da casa dela. Entraram e foram até o quarto dela. Ela ainda lembrava que Will era o galinha da escola. Como todos tem seus segredos, ela também não sabia que Will bebia e pegava todas só porque ele tinha medo de não ser aceito pela escola. Os dois sentaram na cama e Will estava tremendo. Vicky segurou na mão dele e disse:
_Tem certeza?
_T te tenho sim...
_Eu sei que você não quer.
_Ah, é...Ah.. e.. Ah.. - ele não conseguia falar.
_Pode me contar o que você quer, eu sei que tem algo pra dizer.
Will olhou pra cara dela e os olhos do mesmo encheram d'agua. Nada fazia sentido. Então ele disparou entre as lágrimas.
_ Eu só quero ser aceito. Não aguento ver aqueles meninos que sao debochados na escola. Não quero ser um deles.
_ Sabia que tem gente que gosta de você do jeito que você não é?
_ Tem? Impossível! Eu sou um maria-vai-com-as-outras, não consigo ser eu mesmo com medo de tudo!
_ Eu sei qual é o preço de não ser aceito.
Vicky dizia isso porque ela era a menina nerd esquisita e excluída escola. nignuém enxergava sua beleza. Até que Will começou a vê-la.
_Sabe? E porque você continua assim? É tortura!
_ Acredite Will. - disse ela dando um abraço no menino todo molhado com suas lágrimas - É melhor ser você e sofrer as consequências do que viver sendo alguém que você não é. A sua verdadeira pessoa tenta se libertar todo dia e só faz você se magoar. Ela é como um presidiário - falou Vicky balançando Will -  que foi preso sem motivos e ninguém tem provas contrárias pra libertá-lo! Ele está desesperado! Quer sair de dentro de você! Porque o medo?! A falsidade só atrai a falsidade!
Will não poda dizer nada, era tudo verdade. Ele só olhou para ela e secou suas lágrimas. Tinha encontrado sua primeira amiga e naquele momento sentiu que nada poderia impedir esse fato.
_ É verdade Vicky. É a pura verdade. Limpa como a água, turva como a cachoeira. Não preciso ser infantil, abobado e tosco como aqueles de quem eu dizia amigos. Mas e agora, como eu fico? Eu já tinha minha vida feita daquele jeito!
Vicky foi a cozinha e voltou depois de um tempo com duas taças com água.
_Beba, vai te fazer bem, você desperdiçou muita água.
_ Sabia que vi num filme que o maior dom humano é fazer os outros sorrir? E você conseguiu isso de mim agora. -  disse ele abrindo os lábios com o sorriso mais sincero que já dera.
Tudo ficou escuro. Os dois foram encontrados mortos na cama de Vicky com as taças entre eles. Como Vicky tinha um plano, deixou ele beber o veneno primeiro e enquanto via ele estirado na sua cama, escreveu com seus últimos minutos de vida:
"Uma vida solitária e outra falsa acabaram aqui. E todos vocês têm culpa. Está na hora da humanidade usar o seu maior dom com sinceridade: sorrir. E ser eles mesmos."
Nesse tempo também ela programou sua impessora para fazer cópias desse testamento até acabar a tinta.
Por quanto tempo eles ficaram lá no quarto de Vicky "esperando" alguém, ninguém sabe. Mas você já sabe algo: Use seu maior dom com sinceridade. Ou prefere ter culpa no cartório?

Um comentário: